Numa rede social hoje, várias amigas virtuais teceram comentários sobre empregadas domésticas, ter ou não ter.
Somente aquela que alegrou-se com o retorno de sua funcionária depois de férias e eu, mantemos mensalistas.
Algumas consideram perda de privacidade, empregadas em casa, outras pregam a independência, é dito também que é "cargo em extinção", que nos EUA e na Europa cada um cuida de si e que empregada doméstica é resquício da mentalidade escravagista.
Pois continuo mantendo posição favorável a ter alguém para auxiliar na atividade de limpar o chão, passar roupas, lavar vidros e, quem consegue como eu, manter uma Super Ana há onze anos, que além das atividades nominadas acima, também faz pequenos consertos elétricos, hidráulicos e como hoje, colocar tela na janela da cozinha para o Nino não fugir,
não dispensa com muita facilidade.
Acredito não ser a função de empregada doméstica que está em extinção, vê-se hoje exercendo este trabalho, mulheres entre quarenta e sessenta anos. Aquelas que não podem mais encarar o serviço doméstico, atuam como cuidadoras de idosos.
Passei mentalmente a rua onde moro desde sempre, em busca de empregadas domésticas com menos de quarenta anos, acreditem, encontrei só uma e que está próxima.
Então, morando em cidade de sessenta mil habitantes a situação do emprego doméstico é esta.
Imagino que em grandes metrópoles há muito tempo não se encontre mais profissionais que se mantenham em empregos como no interior.
As jovens não querem e a maioria também não as quer dentro de casa e isso porque foi-se o tempo em que se conhecia a família, os vizinhos, os amigos de quem trabalha ao teu lado. A maioria das meninas entre 14 e 20 anos já carregam filhos ou na barriga, ou de arrasto pelas ruas, elas mães, mais despidas que vestidas, com as barrigas caindo para fora das calças, ou shorts mostrando tudo aquilo que no passado era velado e os decotes deixando ver aqueles seios cheios de estrias e flácidos por conta da precoce iniciação sexual, unhas enormes, cabelos caindo sobre o rosto.
(desculpe mulher maravilha, mas não encontrei na net mulher como descrevi, teria que fotografar na rua...)
Realmente, assim não é possível entregar a chave da casa.
Voltando à Ana. Foi-me indicada por sua mãe que trabalhava como servente concursada, na Prefeitura onde eu era Secretária Municipal de Assuntos Jurídicos (cargo de confiança, sem estabilidade). Morava Ana com a mãe, duas irmãs, um irmão, o marido desempregado e um filho pequeno. Com o tempo passando, ele conseguiu novo emprego (perdi o meu quando mudou o prefeito), iniciaram a construção de uma casa, infelizmente num bairro que hoje é dos mais violentos da cidade. Mas enfim, na família entre altos e baixos, nasceu mais um menino, hoje com sete anos, o mais velho terminou o segundo grau em 2011, passou nas provas do ENEM e hoje está trabalhando, com "carteira assinada" e só tem 17 anos.
Grande orgulho para a família.
Ana é motorista habilitada, em sua casa não falta nada, hoje está comigo apenas aguardando a venda da "mansão".
O emprego doméstico não está extinto nas cidades interioranas, está em extinção e é lamentável porque é trabalho digno, bem remunerado, com todos os direitos trabalhistas reconhecidos mas, as potenciais empregadas domésticas com idade para tanto, preferem ser "piriguetes" e lotar nosso amado Brasil com bolsistas, cotistas e outros "istas" que os políticos insistem em implantar para ser cada vez maior a massa de manobra.
Mas, o principal sobre Ana ainda não contei. Ela cuidou da minha mãe em seus últimos dias de vida, ia todos os dias à Casa Geriátrica, onde obriguei-me a internar a mãe, em razão da enfermidade que impediu-me de estar presente naquelas duas últimas semanas.
Na partida, Ana segurou sua mão.
Então, ainda existem empregadas domésticas e, dependendo da minha vontade, na minha casa sempre haverá alguém, principalmente para passar roupas e limpar janelas,
tarefas que detesto fazer, mas uma certeza tenho,
igual a Ana, nunca mais.